Valor Econômico – 21 / 08 /2017
Por Tatiane Bertolozi
A varejista de bolsas e malas Le Postiche sai de sua segunda reorganização em uma década direcionando o negócio para o público de maior poder aquisitivo. O novo direcionamento ocorre depois que a companhia reestruturou as finanças, fez uma revisão nos fornecedores, e terceirizou a operação logística.
A companhia, que deve atingir 78 lojas próprias e 145 unidades licenciadas em setembro, estima alcançar vendas de R$ 460 milhões ao consumidor final em 2017.
Em Julho as vendas cresceram 5% pelo critério “mesmas lojas”, que compara o desempenho dos pontos abertos há pelo menos 12 meses. A tendência de restrição dos primeiros meses do ano começou a ser revertida em Maio.
“A economia se recupera em velocidade menor do que esperávamos, mas a expectativa é terminar o ano com avanço de 7% buscando um aumento de 10% em 2018”, diz o Presidente da rede, Carlos Eduardo Padula. No ano Passado o recuo nas vendas “mesmas lojas” foi de 5%.
Aberta em 1978, a Le Postiche cresceu como varejista de produtos para viagem de diversas marcas, vendendo itens importados, e depois de marca própria. Em 2010 traçou um plano para consolidar a presença com o público feminino das classes B e C.
A crise econômica veio e, em 2014, comandada pelas duas filhas do fundador Álvaro Restanho e por diretores, a companhia contratou a consultoria Performa Partners para profissionalizar o negócio. O trabalho foi concluído no início do ano e, em fevereiro, Carlos Eduardo Padula, ex-executivo da Hope e da Loungerie, passou a liderar a empresa após a transição com a consultoria.
Após as mudanças internas, a companhia está alterando gradualmente o visual das lojas, em um projeto que eleva em 30% os itens expostos. O portfólio, porém, deve ficar menor, com menos fornecedores. “Qualquer fornecedor agora tem que passar por dois crivos, o da exclusividade e o da rentabilidade”, diz Padula.
A rede firmou parceria com a marca Santa Marinella, dona de lojas próprias, mas sem vendas em multimarcas, e tem contratos com a Uncle K, Farm, BoBô e Ana Hickman. Em outubro, vai trazer ao país a marca de malas Echolac, que pertence ao grupo japonês Mitsubishi e é rival direta da Samsonite.
Há três anos, o portfólio da Le Postiche estava na faixa de preço de R$ 79 a R$ 179. Hoje fica entre R$ 129 e R$ 399. Pela nova política comercial, promoções serão menos frequentes e os gerentes de loja, terão menos autonomia para dar descontos. Isto deve adicionar de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões de margem, segundo o Presidente.
Como parte da reestruturação financeira, a empresa terceirizou a operação logística para a Volo, que atua com marcas como Farm e Lacoste. A mudança deve permitir uma economia de R$ 1,8 milhões por ano. A Le Postiche operava com dois centros de distribuição próprios, em Vitória (ES) e Barueri (SP). Em 2016, passou a usar só um centro em Cajamar (SP), até terceirizar a operação neste ano.
A relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) saiu de quase 4 vezes para 2 vezes em 2016, por meio de renegociação com os bancos e aporte do fundador. Em dezembro, essa relação deve cair para perto de uma vez e meia, diz Padula.
A reformulação nas lojas da Le Postiche ocorre num momento em que grandes fabricantes de malas investem no varejo brasileiro com lojas próprias ou franquias. A Samsonite pretende abrir 50 unidades franqueadas e 50 próprias no país até 2018. A rival Primícia tem planos de inaugurar 100 franquias em cinco anos.