Um time de compras para chamar de seu

Isto É Dinheiro – 01 / 06 / 2016

Por Flavia Galembeck

Retração dos bancos de investimento e corte de custos fazem empresas com apetite comprador investir em equipes próprias de fusões e aquisições

O cenário está melhorando para quem costura compras de empresas. A queda dos preços das companhias devido à retração da economia, e o câmbio favorável aos compradores internacionais, permitiram a conclusão de 210 negócios no primeiro trimestre do ano, uma alta de 10% ante o mesmo período do ano passado. Em 2015, os times responsáveis pelas operações de fusões e aquisições – conhecidas pelo termo inglês M&A, abreviatura de mergers and acquisitions – puderam comemorar uma leve recuperação nos negócios após um período de vacas magras.

Porém, o movimento de 2016 tem algo diferente. As demissões feitas pelos bancos de investimento no ano passado, e a vontade empresas menores de participar dos processos de consolidação de seus setores, fizeram companhias de médio porte se darem um luxo antes restrito às maiores corporações: montar seu próprio time de M&A.

Um bom exemplo é o da operadora de planos de saúde NotreDame Intermédica, que montou sua equipe em 2015. Recrutar compradores de empresas foi uma das primeiras providências do mineiro Irlau Machado Filho ao assumir o comando da companhia, na sequência da sua aquisição pelo fundo de investimento americano Bain Capital, em 2014.

Desde a criação do departamento, a NotreDame adquiriu duas concorrentes. O Grupo Santamália Saúde, no ABCD paulista, e o Hospital Family, em Taboão da Serra, também na região metropolitana de São Paulo. Foram as primeiras compras nos 48 anos de história do grupo. “Avaliamos que seria mais fácil ter um time de analistas internos, até pela velocidade que ter uma equipe dedicada a isso nos proporciona”, diz Machado. “Nossas metas de crescimento são ousadas e é essencial termos um time focado.”

Em meados de maio, foi assinado o contrato para uma terceira aquisição, de um hospital na região metropolitana de São Paulo. Mineiramente, Machado esconde os detalhes. A equipe de M&A da NotreDame Intermédica responde ao diretor de Novos Negócios e, além dele, há outros quatro profissionais na equipe.

Essa também foi a estratégia da Dasa, de serviços diagnósticos, que neste ano contratou um analista vindo de um banco de investimento. Procurada, a Dasa não comentou o assunto.

Agilidade e foco são vantagens importantes para justificar a contratação desses executivos. Outro fator é a economia. Comprar um concorrente com a assessoria de uma boutique financeira ou de um banco de investimentos pode custar de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões. Assim, uma companhia que feche três negócios de R$ 100 milhões cada em um ano pode gastar até R$ 15 milhões. Em negócios com empresas de maior porte, a remuneração pode ser calculada como um percentual do valor da transação, em geral 3%.“Se a empresa define que vai crescer por aquisições e tem condições de manter um time interno, eu recomendo, porque é mais barato e oferece mais qualidade”, diz André Pimentel, da consultoria Performa Partners. “Um terceiro, como uma consultoria externa, agrega valor ao planejar o lado financeiro da operação.”

Esse cálculo vale também para aquisições de pequeno porte, como é o caso da maioria dos alvos da Senior Solution, empresa de tecnologia e serviços para o setor financeiro. A Senior investiu R$ 2,2 milhões em uma aquisição recente, realizada totalmente com pessoal interno. Se tivesse recorrido à assessoria externa, a fatura não sairia por menos de R$ 300 mil, quase 15% do total. “Contratamos assessorias para casos específicos, mas em geral o trabalho interno costuma ser mais rápido, barato e assertivo”, diz Thiago Rocha, diretor de Relações com Investidores, área à qual o departamento de M&A, com três profissionais, está subordinado. A equipe foi criada em 2013, mas ganhou um gerente recentemente, o que mostra que a temporada de compras está longe do fim.

Outras concorrentes do setor vão pelo mesmo caminho. A criação de um departamento interno para fusões e aquisições está sendo avaliada pela empresa de softwares Consinco, de Ribeirão Preto (SP). De médio porte, a companhia projeta faturar R$ 55 milhões neste ano e afirma ser uma das líderes em tecnologia para o varejo de alimentos, com 35% de participação entre as redes que faturam mais de R$ 1 bilhão por ano. Para expandir sua atuação para companhias pequenas e médias do setor de alimentação, o CEO Flávio Barros quer ir às compras no ano que vem.“Meu modelo favorito é montar um time interno porque isso traz negócios mais aderentes, mas ainda não tomamos a decisão”, diz Barros.

A fabricante de lâmpadas Led e luminárias Taschibra fez sua primeira aquisição neste ano, sem ajuda externa. Gostou tanto da experiência que decidiu criar seu próprio time de M&A. Tradicionalmente, as operações de fusões e aquisições se concentram no segundo semestre do ano. As empresas aproveitam os seis primeiros meses para definir estratégias e sondar o mercado em busca de oportunidades.

Veterana compradora, a empresa de educação Kroton montou seu time em 2009, quando as aquisições passaram a ser um dos seus principais vetores de crescimento. Com exceção da fusão com a Anhanguera em 2014, que envolveu nove consultorias, as sete aquisições fechadas desde 2010 foram realizadas de ponta a ponta pelo time interno. “Normalmente só chamamos um banco quando queremos capital, ou quando a aquisição envolve novas operações no mercado de capitais”, explica Frederico Brito e Abreu, vice-presidente de Finanças do Grupo Kroton.

O time se mantém ocupado. Para fechar os sete negócios, foram analisadas dezenas de alvos e há cerca de 50 universidades no radar”, diz Abreu. “A gente descarta muito mais negócios do que fecha, porque estamos focados no que é melhor para companhia”, diz Fábio Panhoni, diretor do setor de M&A da Kroton. “Não há remuneração variável para o time interno.” Esse é um ponto importante a favor da montagem de equipes próprias: como banqueiros de investimento só ganham se cumprirem metas, eles estarão mais inclinados a preferir o fechamento do negócio. Com um time próprio, os interesses estão alinhados.

As seis pessoas do departamento deverão ter muito trabalho nos próximos anos. Segundo Panhoni, faculdades privadas que não pertencem a nenhum grupo concentram 64,1% do mercado de ensino superior no País. “Temos sido muito procurados, especialmente por grupos do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, que estão tendo dificuldades financeiras por conta de mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil”, diz Abreu. O trabalho deve ser intensificado com aquisições de escolas de educação básica, algo que está sendo avaliado pelo grupo.

Segundo Pimentel, da Performa Partners, outra vantagem é a flexibilidade dessa mão de obra. As empresas têm montado times temporários de M&A e reaproveitam os profissionais após o fim do ciclo de compras. Para o executivo, as operações de fusões e aquisições devem se intensificar no segundo semestre de 2016, até por conta da situação financeira periclitante de boa parte da indústria, do varejo de médio porte e do setor de turismo, além das oportunidades existentes em serviços de saúde.

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